28 de abr. de 2008

DOR SECRETA












DOR SECRETA

Vislumbrando a hora certa

o público ávido
disfarça o brilho
arrebanha o séquito
humildemente
intencionalmente
precisa luzes na ribalta
mas, como tímida criança
espia o circo por trás da lona
alcança sutilmente a glória
por trás dos panos
aliviando sua dor secreta
aliviará?

ANA WAGNER

20 de abr. de 2008

DEVANEIOS










DEVANEIOS
Acreditas,sou só devaneios

viajando sonhos ardentes

a cada momento te anseio.


Façamos de conta, assim é a vida,

estou à deriva num mar que se agita;

espero ansiosa o próximo porto

aventureira, buscando guarida.


Façamos de conta, brinco de fadas

infantil e um muito de ousada,

voando amarrada em fitas de seda

enquanto te sonho acordada.


Sedutora, sutil ou sedenta

sempre dizes que estou enganada.


Façamos de conta, a menina

brinca de príncipes e castelos,

velo teu sono, encantada.


Em mil nuvenzinhas, teu rosto,

brancas mãos seguram as minhas.


Façamos de conta, tudo é verdade

sabendo que é outra a eleita;

te esquivas com medo

de meu corpo ardente

mas é comigo que sempre deitas

no leito branco e aquecido

suspiras fremente desejo


Sejamos, então, assim permissivos,

aceito teus medos cheios de ternura

mas de te amar jamais me esquivo

pois já fui guerreira, conheço amargura!

Ana Wagner

18 de abr. de 2008

ESQUECIMENTO









Esquecimento


esqueci todos os sinônimos

antônimos, metáforas
paráfrases
só lembro palavras banais
ou sórdidas que aprendi agora

aquele divino poema
que sempre sonhei para ti
ficou igual minha memória
falhou, embotou, me sabotou
mas sempre olho o céu
o mais belo poema que conheço
e que sempre compartilhamos

o bosque, o quiosque
as flores cor-de-rosa
meu monólogo repetido
e não os encontro,
não estão mais lá
mas não importa
"meu amor não tem importância nenhuma"*

Ana Wagner


* Verso de Cecília Meireles

PÉTALAS











Pétalas

Rescendem estrelas

moças ondas, janelas
cravo e canela
olhar dormido
lírios florindo
resquícios de orvalho
pétalas de ilusões
sussurrar de amor
em voz angelical
maciez na pele
renasce a luz
amanhece...

Ana Wagner

16 de abr. de 2008

FÚRIA










Fúria


imagens dormem
dentro do coração
noturno pedaço
de dor e solidão
não leia isso!
não é poesia!
não é para teu sublime
sentimento poeta
sou alga pantanosa
furiosa e arredia
jamais serei
a flor do meio-dia


Ana Wagner

***

15 de abr. de 2008

LABIRINTO









Labirinto


Lutei com fantasmas
espectros, horrores
"ninguém quer
ler nossas dores"
rompi sonhos
na ventania
o espelho mostrando
a face mórbida,
um labirinto
desencontro
da lucidez
e dos amores
desprezados
meus deuses
estão todos mortos
sou a serva dos heróis
limpando masmorras,
ouvindo correntes
arrastando
a saia na lama
implorando misericórdia
aos meus senhores
sem volta no tempo
sem moeda de troca
miserere ...misericórdia!

Ana Wagner

14 de abr. de 2008

A FORÇA DE EROS












A FORÇA DE EROS


Manto de estrelas
brancas e difusas
acariciam teu corpo
com a leveza
de um sonho ardente,
a pele responde
arrepios inesperados,
reviram entranhas
estranhos desejos
resguardados, temidos
ocultas delícias
línguas de fogo
invadem teus poros
receios superam;
a vida se impõe
sensual e voraz
vislumbras ternura
íntimas loucuras,
rubro é teu sangue
intrépido teu sexo
despindo temores
explode em prazer
com a força de Eros.

Ana Wagner


****

11 de abr. de 2008

SAUDADES DE QUE?











Saudades de que?

do amor que nos instiga
desse carinho abençoado
a carícia na noite imensa
a palavra doce e perfeita
a suave respiração em meu peito
a trangressão em tudo que faço
a ilusão de que tudo posso
o sentimento de vida nova
saudade desse teu beijo
cujo sabor desconheço
saudade que me persigas
que me queiras um dia
mais do que uma amiga
que me sufoques
em teu quente abraço
saudade que me digas...
que me digas...

Ana Wagner

4 de abr. de 2008

CARINHOS PARA W




INOMINADA









INOMINADA


Quero uma gaveta cheia
de fotos amareladas,
lembranças de viagens,
antigos bilhetes de amor.
Quero esculpir novo passado,
lembrá-lo nos dias sombrios
guardar doces palavras,
lidas, rabiscadas;
aroma de início de outono,
silêncio , final de verão...
pegar tua mão e levar-te
por uma estrada florida
aquela dos nossos sonhos
igual menina e seu namorado
sem pensar, sentir somente
teu delicado beijo,
mão leve nos cabelos,
brisa da tarde,
nosso sopro de vida,
dar-te uma flor branca
muito simples
como tua alma ,
teu lavado presente.

Quero um anjo que nos guarde
de tudo o que for verdade...

Ana Wagner

* Para W

DESNEXO




















DESNEXO


Tuas mãos deslizam rios caudalosos.
Espanto de um dia comum, sublime,
Em verso inebriante te venero.
Arco-íris cavalga neblina.

Final de outono, distraída e pensativa,
Cadernos rabiscados sem poesia,
Não percebo a lua nova em entrelinhas,
Nem consigo matar o sonho nascedouro.

Ante o fascínio de tua magna presença,
Desmorono. Um gerânio ao vendaval,
Despetalei-me com tua brisa matutina:
Quis ver os montes da saudável solitude,

Rasgar ternuras, fechar os olhos-janelas...
Assaltou minh'alma súbita calma conformada.
E na estrada tardia, serei a mesma:
Incorrigível... Escancarada!


Ana Wagner


* Para W


***

ESPERANÇA













ESPERANÇA


flores abertas no peito
e de novo...e de novo
esperamos não sobreviver
permanecer adormecidos
sem versos nem olhares
sem tua face intocável

esperamos que o mundo se apague
que se feche a cortina
não cantem mais os pássaros
cale-se esse relâmpago de amor...

Ana Wagner

ESFINGE











ESFINGE


Santa
alucinação juvenil!
Amargo
quadro de beleza
no espelho
a face anulada,
vincada
um rosto copiado do terror
da humana imbecilidade
ocultando o belo
fundo raso de mim,
âmago sem aleluia
rasa solidão febril,
pequena moldura
marmórea
mulher disfarçada
em esfinge...

Ana Wagner

Ao anônimo leitor!

Gostaria de fazer
um agradecimento
aos inúmeros leitores
anônimos que me visitam
diariamente. São pessoas
de lugares distantes ou
próximos que passam
por aqui diariamente.
Obrigada anônimo leitor!

Tempo